quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Voltei a tempo...

Deus sabe o quanto me esforcei para que pudesse voltar ao blog no mínimo uns dias antes da eleição. Se você está conseguindo ler este texto, é porque ao menos a primeira parte do meu plano obteve êxito.
A segunda etapa, depende de você estar lendo isso antes ou depois de ir às urnas.
Sim, porque eu adoraria ter o poder e o alcance necessários para atingir o maior número de pessoas, a fim de divulgar uma campanha criada por mim mesmo:

ANULEM SEU VOTO


Anulem em todas as instâncias.
Anulem para Presidente, para Governador, Senador e seja lá o que mais estiver em jogo. Anulem, porque nada vai mudar. Anulem, porque, independente de quem se consagre o vencedor, o resultado não afetará em nada a sua pessoa. E, caso venha a afetar, será negativamente.
Não importa mais se você tem uma ideologia, um partido que simpatiza ou um candidato no qual acredita.

Seja quem for o vencedor, você, eu e nossas famílias seremos os únicos que continuarão sem ganhar nada, sem tirar proveito de coisa alguma. Nem mesmo daquilo que nos é de direito, e que lhes é dever.
Não aceite a presença de político algum em sua comunidade. Organize grupos de amigos, e bloqueie toda e qualquer entrada que o candidato e sua corja de puxa-sacos possam utilizar para chegar perto das pessoas. Faça como os traficantes, que praticamente correram a marketeira da Heloísa Helena, quando a mesma tentava se aproximar da Favela da Maré, no Rio de Janeiro.

Anule o voto. Anule a eleição. Deve haver uma maneira qualquer. Porque nenhum político vai cumprir o que está prometendo, da mesma forma que seus antecessores vêm fazendo em todas as eleições já decorridas.
Depois de eleito, nenhum dos vencedores voltará ao seu bairro, à sua vila, ou ao seu condomínio. Sequer atenderá suas ligações, quando você ligar para o gabinete cobrando por seus direitos.
Anule seu voto.
Ou então continue na mesmice, de esperar pelo Jornal Nacional e tentar ser um pouco mais enganado por balelas como:


TJLP cai ao menor nível já registrado, de 6,85%
Emprego formal cresce 5,8% em 2005, diz ministério
Superávit primário é de 4,47% do PIB em 12 meses
Inflação ao consumidor sobe 0,28% em São Paulo, diz Fipe
Reservas internacionais recuam para US$ 73,454 bilhões
Brasil cria 1,8 milhão de empregos em 2005, mostra Rais
BC irá apurar taxa prefixada para crédito habitacional



Anule seu voto, por favor. Pois assim que o Jornal Nacional chegar ao fim, você vai continuar tendo de colocar o relógio para despertar às 05:30 da manhã do dia seguinte.
Vai ter de continuar tomando um banho correndo, às pressas, louco de frio, ainda sonhando com um pouco mais de conforto. Vai continuar comendo, de pé mesmo, um pão francês de ontem, dormido, duro, enquanto aguarda o ônibus.
E vai continuar sofrendo como um porco no abate para embarcar no coletivo,
espremendo-se ao lado de centenas de outros pobres brasileiros que, como você, vão continuar passando mais horas da sua vida aturando a cara amarga de seus chefes, do que ao lado de suas esposas, filhos, irmãos e pais.



Anule seu voto, eu imploro.
Porque quando alguém de sua família adoecer, e você for atrás de seus direitos básicos — deveres daquele em quem você quer votar — terá de madrugar por cerca de uma semana na fila de um posto de saúde.
Para receber uma senha.
Para não ser atendido.
Se você quiser salvar seu ente querido, terá de abrir o bolso, gastar mundos e fundos, ou só lhe restará optar por assistir seu familiar definhar no corredor putrefato de um hospital público.



Anule seu voto, pelo que há de mais sagrado.
Porque, não importa o escolhido, será um ladrão. Sim, ele irá roubar.
Anule seu voto, porque na metade do ano que vem, seremos novamente bombardeados com a instauração de uma CPI, ou de mais uma Operação Sanguessuga, Operação Cueca, Operação Raio Que O Parta.
Que não vai dar em nada; nem em pizza. Continuaremos sendo enrolados pela imprensa tendenciosa e panfletária, que tenta de forma bastante precária nos convencer de que algo está sendo feito contra a roubalheira e politicagem.


Anule seu voto...


Mas, se mesmo assim, você ainda quiser votar, opte pelo candidato mais pobre, mais esquisito, mais sem nexo e com a menor perspectiva de todo o horário eleitoral gratuito. Porque esse é o perfil que mais combina com o povo, com você, ou comigo mesmo. Opte por aquele que sequer atinge alguma marca nas pesquisas. Opte por aquele que é praticamente invisível aos olhos da grande máquina do governo. Por aquele que tem pouquíssimo tempo para se expressar, para dizer tudo que tem vontade. Por aquele que não sabe se comportar durante o debate. Por aquele que fala errado, por aquele que tem a menor chance de conseguir um emprego, enquanto estiver disputando com um almofadinha de terno e gravata.

Porque esse é o brasileiro.
Esse é o perfeito representante dessa nação de pobres coitados...



Mais informações, no decorrer do período...
(...é tão bom escrever isso novamente...)

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