Só piora...

Sabe o que eu acho curioso no povo gaúcho?
A capacidade de insistir nos erros, e ainda assim permanecer arrogante como sempre. Só isso explica, por exemplo, um estado inteiro que se reúne para lembrar e celebrar a vitória de uma guerra que na verdade foi perdida do primeiro ao quinto.
Bom. O fato é que, anos e anos após a batalha dos Farrapos, os gaúchos continuam me proporcionando motivos de sobra para dar risada.

Passei o Natal e o Reveillon na praia.
E lá, durantes essas duas ocasiões, acompanhei o espetáculo da ignorância, da falta de cultura e da falta de educação. Em primeiro lugar, aqueles locais não deveriam nem mesmo ser chamados de praia.
Ainda não consigo entender essa paixão por gastar duas horas de estrada, debaixo de um sol senegalês, para passar três dias em um lugar que não oferece nem mesmo a estrutura básica para um bom descanso e entretenimento.

Vocês já viram o mar das praias daqui?
Não?
Ainda bem. Porque se vissem, deixariam de ter raiva dos gaúchos e passariam a ter misericórdia. Mesmo assim, a cada feriado, lá se vão hordas inteiras de gaúchos em seus carros lotados rumo ao famigerado litoral norte.
E lá, se orgulham como nunca do seu comportamento vergonhoso.

Atualmente, a moda mais forte entre os mal-educados é invadir, com carro e tudo, o espaço reservado aos banhistas. De frente, de costas, de lado, o importante é deixar o Chevette ou o Corcel 1 bem próximos ao mar.
Com o porta-malas escancarado como um furúnculo, e toda aquela gambiarra acústica à mostra, colocam as mais bregas e mal compostas páginas do cancioneiro popular no último volume.
A impressão que dá, é a de que eu realmente tivesse pedido pra ouvir aquilo.
O curioso mesmo, é saber que você nunca (eu disse NUNCA) vai ouvir uma música boa. Invariavelmente, você vai escutar Bruno & Marrone, Latino, Só Pra Contrariar, Tchê Garotos, ou qualquer outra porcaria do mundo sertanejo ou do pagode, cujos nomes felizmente eu desconheço.

Depois de preparar a logística, os “veranistas” começam então a se acomodar nos pequenos espaços de areia que sobram entre seus veículos imundos. Nessa hora eu fico pensando:

— “De onde tiram essa balela de afirmar que no sul estão as mulheres mais lindas, os corpos mais desejados e as pessoas mais elegantes?”

No mínimo essa gente nunca foi à praia aqui no Estado.
É inexplicável como o gaúcho consegue ser tão ridículo quando está à beira do mar. Nem mesmo os mineiros quando vão à praia conseguem passar a idéia de estarem tão deslocados de seu habitat.
Os homens, por exemplo. Parece que se reúnem na noite anterior e combinam suas vestes para a manhã seguinte. Só pode, porque todos usam o calção de alguma equipe de futebol. Mas só do próprio estado, lógico.

Mulher gaúcha não usa fio-dental, sabia?
É... de acordo com as opiniões preconceituosas das mulheres daqui, isso é traje de puta. Certa vez, escutei uma dessas mal-acabadas afirmando que biquíni desse modelo é roupa de “mulher do Rio de Janeiro”. Segundo ela, mulher de respeito não usa isso.
Sei lá... eu acho que é recalque mesmo.

Aqui, os homens entram no mar de camiseta. Tomam sol usando camiseta. Usam sunga, tênis e meia, enquanto cavam(?) buracos na areia.
No Rio de Janeiro eu pude curtir as mais divertidas peladas entre os cariocas. Enquanto os gaúchos aqui apenas brincam com a bola de futebol. A cada 25 metros, é possível cruzar com um grupo de três ou quatro homens brincando com uma bola de futebol. E é só o que eles fazem.

Aconteceu comigo:

— “E aí, gurizada... vamos bater uma bolinha aí? Tão precisando de gente?” – perguntei, inocentemente.
— “ ãh..ãh... sabe o que é... a gente tá só aqui, esperando uns amigos...”
— “tá... mas e não vão jogar?”
— “er...ãh... acho que não... mas se a gente jogar, a gente chama...”
— “nah... faz o seguinte... nem esquenta a cabeça. É até melhor que eu não jogue mesmo. Não quero atrapalhar o brinquedinho de vocês...”

E os filhos, então?
Ahhh, os filhos....tão educados, tão queridos.
Aqui no Sul, as mães têm o péssimo hábito de achar que seus ranhentos podem fazer o que bem entenderem.

— “Fulaninho... Quantas vezes eu já disse pra não jogar areia na moça...”

Umas 200 vezes, no mínimo. Porque isso é o máximo que as mães fazem para coibir o comportamento porco de seus filhos. Mesmo que nos últimos 45 minutos a infeliz da criança tenha feito apenas isso: infernizar o descanso dos mais próximos.

Até que alguém sinta fome ou sede.
Aí o povo se dirige para a segunda mania do verão gaúcho: os quiosques.
Os gaúchos adoram os quiosques.
Mas isso já uma outra história, para um próximo episódio.
Por enquanto, deixa eu ligar meu videogame, assistir tv à cabo, passear de elevador, dedilhar meu controle-remoto e continuar curtindo minha urbanidade ao máximo.


Mais informações, no decorrer do período....