Não tem jeito. Vez ou outra, acabo sentindo vergonha de ser brasileiro.
Seja no exterior, ou por aqui mesmo, volta e meia o Zé Povinho dá mostras de que não merece mesmo mudar de vida.
Há alguns anos, estive em Nova York. Fiquei um tempo considerável por lá, o que me levou a entrar bastante em contato com o tal do “american way of life”, e descobrir que, surpreendentemente, esse estilo de vida não é tão ruim quanto se desenha por aí.
Pelo menos quando comparado ao “jeitinho brasileiro de viver”.
Certa feita, durante uma caminhada pelas imensas avenidas da Big Apple, cruzei com umas três senhorinhas americanas. Daquelas bem típicas. Agasalho para exercício, um Nike bem bacana, e aquele ar de quem vive perfeitamente bem com o dinheiro da aposentadoria.
Quando passei por elas, estava próximo à Broadway, ou seja, um lugar onde “brasileiro é mato”. Lá pelas tantas, ao enxergar algumas pequenas embalagens de lanches jogadas no chão, fora das lixeiras, ouvi uma das senhoras comentando com as amigas, em alto e bom som:
- “It just can be brazilian thing…oh, god…what a dirty people…”
Para quem não tem muito o domínio do inglês, foi mais ou menos isso:
- “Só pode ser coisa de brasileiro...oh, meu deus...que gente bem porca...”E ela tem toda a razão. Bastou uma breve passada de olhos pela redondeza, para perceber que os que falavam aos berros eram brasileiros, os que jogavam lixo no chão também eram.
Aqueles que furavam as filas dos teatros? Brasileiros.
Os que ofendiam os funcionários com palavrões e depois saíam rindo, comemorando o fato de ninguém entendê-los, brasileiros também.
Inevitável sentir vergonha de ser brasileiro.
Pois agora, navegando nos mais diversos sites da grande rede, descobri que o brasileiro “me racha a cara” até na internet.
Parece piada, mas os brasileiros vêm desenvolvendo uma mania escrota: o monopólio da informação.
Eu explico.
Sou plenamente a favor da pirataria, e para dar vazão a isso freqüento fóruns e comunidades do Orkut que disponibilizam os mais diversos arquivos para download, como filmes, cds, jogos e livros. Até algum tempo atrás, era tudo tranqüilo. Bastava entrar no endereço, copiar o link, baixar e pronto: sair faceiro da vida com o seu novo arquivo.
Com o Orkut, as coisas ficaram ainda mais fáceis. Nada melhor do que encontrar comunidades específicas, relativas ao seu artista preferido, ao seu tipo de música predileto.
Mas, como no Brasil as boas iniciativas têm vida curtíssima, os brasileiros logo trataram de “enfiar goela abaixo o seu jeitinho” de fazer as coisas.
Para o brasileiro, tupiniquim de nascença, até mesmo uma coisa boba como a troca de arquivos entre usuários, ganha ares de status.
Pois é. Para uma parcela até certo ponto pequena (mas que vem crescendo), disponibilizar algum arquivo na internet é algo que enobrece a pessoa.
Vou exemplificar.
Que eu escuto psy, não é mais novidade pra ninguém.
No máximo, para o leitor que está chegando hoje aqui.
Bom. O importante é que, devido à minha preferência musical, fui atrás de toda e qualquer fonte de novidade que eu pudesse encontrar.
Entre elas, estão algumas comunidades do Orkut, que disponibilizam CDs importados, que nas lojas não custariam menos que R$ 70,00. Além disso, sempre tem um lançamento, ou algum clássico, à disposição de mais algum admirador.
Mas agora, alguns dos moderadores destas comunidades resolveram que só eles sabem o que é bom para o gênero.
Não sei de onde eles tiraram essa idéia, mas eles mesmos se consideram os únicos que realmente estão por dentro do mundo do psy.Para eles, se você comprou um computador ontem, e está chegando só agora à comunidade, então não está apto para ouvir as mesmas músicas que eles.
Os provincianos chegaram ao ponto de desenvolver uma espécie de dialeto, com palavras pejorativas direcionadas a toda pessoa que não se encaixa no seu padrão pré-definido.
Se você ouve Skazi, por exemplo, será chamado de “chacota”.
Isso mesmo. Ridículo assim: “chacota”.
Para essa gente, não importa que você escute psy desde o início da década de 90, quando pouca coisa além do Skazi vinha sendo comercializada e sequer ouvida.
Mas, como cultura musical parece não ter importância para esses pequenos babuínos virtuais, Skazi não é aceito. Como eles dizem, Skazi “se vendeu”, e agora “virou comercial”. Aquele discurso bem clichê e panfletário de um recém adolescente.
Mas agora a coisa passou dos limites, porque esses “moderadores” decidiram que, se você não fizer parte da panelinha criada por eles, você não pode ter acesso a música nenhuma.
Para ter acesso ao download desejado, é necessário que você deixe um “elogio” para quem estiver postando. Se a pessoa então sentir que seu ego foi suficientemente inflado, aí sim você está pronto para receber “a senha”.
A medida é tão ridícula, que entre os próprios moderadores surgiu um impasse.
Alguns ainda mantém ativa a capacidade de raciocínio, e alegam que tal exigência seria completamente sem sentido, afinal de contas fica “bem difícil” tecer um comentário sobre um CD que sequer tivemos a oportunidade de ouvir.
Mas parece que não há jeito. Mesmo perante um argumento tão forte, parece que a molecada vai continuar com isso. Achando que o fato de ter um CD para disponibilizar os torna realmente indivíduos melhores que os demais.
Amigos...
Por favor....
Saiam de seus casulos, e percebam como isso é mesquinho, barato e bastante ridículo.
Desde o tempo dos primeiros pensadores, já sabemos que informação e conhecimento é para ser compartilhado, seja entre os “especialistas”, seja entre os “cidadãos comuns”.
Um povo que enxerga um “CD de psy” como informação confidencial, no mínimo merece o presidente que tem, né....
Mais informações, no decorrer do período...
segunda-feira, 3 de setembro de 2007
Outro manifesto
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