quarta-feira, 5 de setembro de 2007

só comigo, mesmo

 
 
 
 
 
Pra vocês verem o nível de confiança que tenho nos meus leitores...
Vou contar aqui um troço que, durante um bom tempo, me deixou com uma vergonha desgraçada...
Só perdeu para o dia em que fui à aula de pantufas e samba-canção de seda.
Mas como isso foi num sonho, não conta.

Sabe aquela fase da infância, na qual todos nos comportamos como bichos-do-mato, arrancados de seu habitat natural? Aquela época ridícula em que temos vergonha da família, pedimos para descer do carro duas quadras antes da festa, e debochamos do colega que mora com a avó porque isso é "coisa de trouxa"?
Pois é. Eu, nessa fase, era tão chucro, que cheguei ao ponto de desenvolver uma gagueira.
Isso mesmo.
Hoje não tenho mais vergonha, sou um homem estabilizado, certo de minhas virtudes e corajoso o suficiente para admitir que, durante um pequeno período da minha infância, eu fui um semi-gago. No início, era só mais um motivo de chacota entre os mais velhos, além do meu cabelo e dos shorts que minha mãe fazia eu usar. Todos pediam para que eu falasse alguma coisa, só pelo mórbido prazer de ouvir a mesma sílaba ser pronunciada mais de 4 vezes na mesma palavra.

Quando chegou ao ponto de eu não conseguir pronunciar meu próprio nome, aí sim, meus pais começaram a se preocupar. Me levaram a um fonoaudiólogo. Na época, para mim, só pronunciar o nome dessa profissão já equivalia a uns 3 ou 4 trabalhos do Hércules. Chegava a criar íngua.
Mas fui. Ele examinou, examinou e examinou por horas, o meu pescoço.
É, o pescoço.
E chegou à conclusão de que os meus músculos da voz(?) eram pouco trabalhados.
A receita médica dizia:
"No período de um mês, assoprar uma bexiga (balão) durante 15 minutos, 3 vezes ao dia. Em frente ao espelho"

Ou esse cara não era formado coisíssima nenhuma, ou eu estava sendo o responsável pelas maiores gargalhadas da vida dele.
Procedimento feito, era a hora do teste.
- "Rafa, diz pra mim todo teu nome"
- "Ra...ra...rafa... rafafa... Rafael"

Isso é teste que se faça?
Nada no mundo pode ser pior para um gago do lhe perguntarem qual seu nome.
Depois de ser testado, novo diagnóstico. O quadro não evoluiu.
Outra receita. Mesmo procedimento, porém, ao invés da bexiga (balão), dessa vez a vítima seria uma língua-de-sogra. Ainda de frente pro espelho.
Mais um período de sopros e caras feias, e nada de curar a gagueira.
Me mandaram para um psicólogo, na mesma época em que eu mesmo já começava a me preocupar com aquela maldita dificuldade de falar.

Psicólogos são bem engraçados.
Na minha primeira consulta, após um longo e desgastante exame, o diagnóstico:
- "Rafael, tu não é gago..."
- "hein?"
- "É isso mesmo, Rafael. Você só precisa acreditar nisso: que não é gago.."
- "ahh...tá..."

Fui a um psiquiatra.
Até hoje não sei bem qual é a diferença entre um e outro.
Segundo esse especialista, eu só precisava "não querer" ser gago.

- "Mas moço.... foi exatamente por isso que eu lhe procurei. Porque não quero ser gago, entende..."
- "Correto. Mas você precisa não querer de verdade. Como se realmente não quisesse ser..."
- "...tá bom..."


Nisso, passaram-se uns dois anos.
Nenhum dos métodos foi capaz. Com o passar do tempo, fui melhorando, com o auxílio das minhas próprias técnicas. Na verdade, bastou envelhecer, amadurecer, perder os hábitos comuns à uma criança e tudo se resolveu. Perdi aquela timidez estúpida que só sabia prejudicar e me tornei um homem.

Mas que foi engraçado consultar esses doutores, ahhh isso foi....

13 comentários:

Anônimo disse...

q bonitinho... abrindo o coraçãozinho para os leitores... ooohhhh...
.
.
.
.
bixa véia...
hahahahaha

forte abraço...

reflexões disse...

Rafael, infelizmente os profissionais q vc procurou não deviam estar seguros do q indicavam, eu particularmente já trabalhei muito com gageira e entendo que o q precisamos é desenvolver a auto- confiança do cliente, só assim ele vai superar seus medos. Vc melhorou simplesmente pq amadureceu e formou uma aut-confiança estável.

Bruno Soares disse...

Hehehehe, aquela "fase da infância" citada no ínicio do post é uma verdade "verdadeira" hehehehe. Mas eu acredito que vc curou sua gagueira pois colocou em prática o que os médicos falaram, mas conseguiu colocar resultado, depois que amadureceu. Acho que foi isso. Parabéns pelo blog.

Ninguém disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Jesus santissimo!!
Rafa não queria nem admitir mas tô rindo pacas imaginando um garotinho franzino, que a mera menção do proprio nome já fazia com que as bochechas queimassem de vergonha, soprando bexigas e linguas-de-sogra em frente ao espelho!
Foi caso até pra psiquiatra...mto embora tenha sido uma perca de tempo, porque até eu (possivel fugitiva de manicômio) poderia te falar: "Rafa pra curar a gagueira você tem que acreditar que não quer ser gago! E pense nisso sem gaguejar!Repita depois de mim: Eu não quero ser gago! Eu não quero ser gago!"
Pobre criança!

Rafa disse...

Jéssica

Sempre tentei manter o bom humor.E no meio de tudo isso, eu mesmo percebi que logo o problema se resolveria.

Bruno

Obrigado pelo elogio.
Vc tem toda a razão. Bastou apenas passar essa tal "fase", hehehe

Apareça sempre.

Verônica

Concordo com o que você disse.
Horas (e muito dinheiro) depois, eu mesmo percebi, hehehehe...
Seja sempre bem-vinda ao blog.

Rafa disse...

Cit

Pra ti, tu sabe bem o que eu tenho a dizer, né...

hehehe...
Abraço, xirú. Volta sempre.

Anônimo disse...

Realmente, isso é que é confiar nos leitores.
Nossa infância e adolescência são fases de grandes transformações e isso é uma barra.

Anônimo disse...

hauiahuahauahaua


Parabens pela coragem!

hehehe

isso ai abrir o coração!


meu proximo post vai ser sobre issO!


abrasss

Anônimo disse...

Nossa, teve ter sido uma época bem complicada, mas todo mundo passa por algo desse tipo :P
Gostei muito do teu blog!
Abraços

Danilo Moreira disse...

Lembra daquele comercial de cerveja q o cara falava agagaquaga, amogueco, entre outras doideiras? Pois é, eu falava daquele jeito qdo era pequeno, só que no meu caso, quando fui consultar um fonaudiologo, simplesmente, ele não estava lá (posto publico), e a minha mãe deixou quieto. Tb deixei sozinho essa mania...
É engraçado quando a gente é criança, desenvolve cada mania estranha... ainda bem que a maioria delas desaparece com o passar do tempo...rs

Abraço!!!

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http://emlinhas.blogspot.com/

EM LINHAS...
Quando as palavras se tornam o nosso mais precioso divã.

Novo texto: Vinte e Dois
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Jane Ferreira disse...

Oi Rafa, não achei nada de vergonhoso nisso, achei um exemplo de superação! Risos! Sério mesmo! Ta bonitão teu Blog, meus parabéns! Um beijão!

Jane Ferreira disse...

Oi Rafa, não achei nada de vergonhoso nisso, achei um exemplo de superação! Risos! Sério mesmo! Ta bonitão teu Blog, meus parabéns! Um beijão!

Rafa disse...

Lord

Confio de verdade nos meus leitores. Cada pessoa que passa por aqui, mesmo que rapidinho merece meu respeito.
E infância é barra mesmo. Mas é a melhor fase de nossa vida.

Dudu

Fico feliz que o post tenha servido para alguma coisa, hehehe

Ana

Fique à vontade para voltar sempre, e dividir seus assuntos aqui comigo e com o pessoal que aparece sempre.

Danilo

Eu tive um professor na faculdade que falava assim tb.
Você imagina o que era, cada vez que ele entrava em alguma sala, e perguntava assim: "Tem cadeira sobrando?"

basta vc fazer a tradução, hehehe...

Jane

Que saudade tua, mulher...
Aparece mais, e vê se me liga...
Beijo