quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Domingo, 17 de Dezembro de 2006

O filho, gremista, pergunta ao pai, também gremista:

- Por que os colorados estão comemorando?
- Eles foram Campeões do Mundo
, — diz conformado o pai.
- Também somos campeões do mundo, né?
- Sim! —
Exclama o pai. Ao fundo, foguetório.
- Tem vídeo teu no Youtube, durante a comemoração, ou fotos da festa?
- Não, né guri... naquela época não existia
Youtube nem câmera digital. Nem celular. Nem internet tinha...
- Não? Que estranho... tá, mas o Inter ganhou do Barcelona, né...aquele time que vemos todos domingos na tv? E nós, pai...de quem ganhamos?
- Do Hamburgo... 2x1 na prorrogação.
- Hamburger? Que time é esse, pai?
- HamburGO. Na época o campeão europeu.
- E depois?

- Nunca mais ganhou nada... hoje é um time médio na Alemanha. Eles foram pro Mundial com time misto, tavam mal no Alemão.
- E eles eram bons, pai? Tinham craques como o Ronaldinho e o Deco?
- Claro, tinha o... Rollf e o Magath!
- Não sei quem são, pai...e contra quem foram as semifinais?
- Não, filho.... na época não tinha isso. Era um jogo só, da Europa contra a América do Sul, e pronto.

- Ahh, tá...entendi.. Mas na época só haviam dois continentes, então?
- Não, filho...é que nesse Mundial não participavam times dos outros continentes. Era um jogo só, e só entre eles. E agora chega, que o pai já tá se irritando...
- Pai... tem imagem de TV, da entrega da taça do Mundial?

- Tenho! Peraí... vou pegar o videocassete betamax lá no sótão e instalar na TV velha da sala.

Rápido, e todo feliz, instala. A imagem tá ruim, mas dá para ver a entrega.

- Pai, quem é este japonês que tá entregando a taça? Era o presidente da FIFA na época? Quem era antes do Blatter?
- Hhmm... não lembro. Deixa eu ver o que tá escrito na tela. Ah, tá ali: "Toyota Maintenance Manager", é o Gerente de Manutenção da Toyota.
- Ahh, tá... então entendi pai... Somos campeões do mundo, de uma época que não tinha Internet, celular, câmera digital... o jogo foi gravado em um sistema que não existe mais. Ganhamos de um time que era zebra, sem semifinal e o mundo, a princípio, parecia ter apenas dois continentes. O prêmio foi entregue por funcionário subalterno da empresa patrocinadora...


O pai suspira, escutando pela milésima vez
"... o teu presente diz tudo, trazendo a torcida alegres emoções..."

e murmura, quase inaudível:
"é, vai ser difícil convencer..."


Mais informações, no decorrer do período...



Um comentário:

Anônimo disse...

capaz q deixaria passar em branco... segue réplica... com craquete...


O menino acorda e vai até a sala, onde o pai está todo sorridente, vestindo a camiseta vermelha e se aprontando pra sair. A sala cheia de bandeiras e as janelas todas abertas, para passar o cheiro de naftalina que ainda impregna o ar(HUAHUAHUAHUAHUA).
– Nós vamos pro aeroporto, pai?
– Aeroporto não, filho. Base aérea... Vamos pra base aérea(HUAHUAHUAHUAHUA).
– Ah. Vai ser uma festa bonita, né pai? – pergunta o menino, sem entender por que não no aeroporto.
– Vai, filho. Vai ser um festão.
– Demorou, né, pai?
– É, filho, mas isso não importa... – resmunga o pai.
– Há quantos anos mesmo que tu espera por esse dia, pai? Desde que tinha a minha idade, né?
– Vinte e três anos, filho... vinte e três... (HUAHUAHUAHUAHUA)
– É muito, né, pai? Ainda bem que acabou... Mas, também, a gente treinou 97 anos... Um dia tinha que acabar, né, pai?
– É, filho... mas agora vamos. Vamos, que não quero perder a chegada do Pato e do Gabiru.
– Vamos, pai – diz o garoto, pegando uma bandeira e ainda catando uma traça que corria pelo pano vermelho.
Um minuto depois, no elevador...
– Hein, pai... Que título mesmo a gente ganhou?
– Campeão mundial, filho! – exclama o pai, animado. – Campeão mundial reconhecido pela FIFA!
– Ah, que nem o Corinthians, né, pai?
– Corinthians? – surpreende-se o pai. E pensa um pouco... Depois, conforma-se:
– É, que nem o Corinthians...
– Pai, mas o Corinthians já ganhou a Libertadores? Já jogou no Japão?
– Tá louco, filho?! Nunca! É que o Corinthians foi convidado. Quando esse torneio que a gente ganhou começou, ninguém precisava ganhar nada pra participar. Era só ser convidado...
– Nossa, pai! Que coisa! Essa FIFA é bem bagunçada, né? Não tem critério nenhum... (HUAHUAHUAHUAHUAHUA)
– É, filho... Mas isso não importa.
O filho segue pensativo até o carro. Enquanto põe o cinto de segurança, sentado no banco traseiro, volta às perguntas:
– Mas pra nós foi difícil, né, pai? Tivemos que ganhar a Libertadores... Só tem uma coisa que não entendo: nosso time hoje é melhor que aquele beeeem antigo, que tinha uns jogadores que o vô dizia que eram muito bons... o Falcão, o Batista, o Escurinho, o Manga?
– Não filho, aquele time foi o melhor de todos que já tivemos... Isso não se discute!
– Mas pai, então me explica: se aquele time era tão bom, por que demorou tanto pra gente ganhar a Libertadores?
– Ah, filho... porque naquele tempo era muuuuito mais difícil ganhar a Libertadores. Primeiro, porque só dois times brasileiros jogavam... se ainda fosse assim, a gente nem tinha jogado este ano. E os adversários eram muuuuito mais difíceis! Tinha times como o Boca, o River, o Estudiantes, o Peñarol, o Olímpia. Eles batiam muito também! Dava até medo jogar naqueles estádios da Argentina, do Uruguai, do Paraguai, da Colômbia... Então, aquele time que o vô viu jogar era muito bom. Mas, naquele tempo, Libertadores era pra macho!
O filho pensou um pouco...
– Pai, quando o Grêmio ganhou a Libertadores duas vezes era mais difícil, também? Ou eles só jogaram com o Pumas, o Libertad, o Nacional e a LDU, que nem nós?
Silêncio... (HUAHUAHUAHUAHUAHUA)
– Ah, mas nós ganhamos a final do São Paulo – emendou o pai, sem responder...
– É mesmo! Naquele jogo que o Rogério Ceni entregou... – lembrou o filho – Que sorte, né, pai?
Alguns minutos de silêncio depois, o filho volta às dúvidas:
– Pai, mas então quando o Grêmio foi campeão mundial também era mais difícil, né? Porque não era qualquer um que ia pro Japão. Porque até o Falcão, que o vô diz que foi nosso maior craque, só foi pro Japão com a Globo...
– É, filho.... mas o Grêmio jogou contra um time alemão, que estava até desfalcado no dia... Não foi que nem nós, que jogamos contra o Barcelona do Ronaldinho, do Deco, do Eto'o, do Messi, do Saviola...
– Quem é Eto´o, pai? Eu não vi nenhum Eto´o domingo... nem Messi, nem Saviola...
– Ah, é porque eles estavam lesionados... eles não jogaram.
– Puxa, quantos lesionados... Mas, então, o Barcelona estava desfalcado? Que sorte, né, pai? (HUAHUAHUAHUAHUAHUA)
– Ah, mas nós não jogamos só uma partida como o Grêmio, meu filho – insiste o pai, já irritado. – Nós primeiro tivemos que passar por um jogo muito difícil, contra aquele timão lá do Egito! O Ai-Ai...
– Puxa pai, é mesmo! Eu nem sabia que no Egito tem futebol... Mas foi um jogão. Bem difícil... Ainda bem que a gente teve muita raça e ganhou do Ai-Ai do Egito, né, pai? (HUAHUAHUAHUAHUAHUA)
– Isso, filho. Muita raça... Olha, que bandeira linda ali no Laçador!
Percebendo que o pai quer mudar de assunto, o filho fica quieto por mais uns minutos, até chegar à Base Aérea, onde muitos outros torcedores se reúnem para esperar o time que está chegando. Em meio a homens, mulheres e crianças, o garoto logo reconhece um amigo:
– Olha, pai! É o Bilu! Eu conheço ele lá da Escolinha do Beira-Rio! Ele é meu colega do balé...
– Bilu? E isso é nome de homem...? – pergunta o pai.
– Ué, pai... que nem Gabiru... (HUAHUAHUAHUAHUAHUA)
– Ah, é mesmo... – concorda o pai, meio a contragosto.
Passa-se um minuto, e o garoto segue pensativo:
– Pai, por falar nisso... É verdade que nós só ganhamos quando entrou o Gabiru? (HUAHUAHUAHUAHUAHUA)
O pai olha de soslaio para o menino, suspira e diz:
– Deixa pra lá, filho, deixa pra lá... O que importa é comemorar. Campeão da FIFA! Campeão da FIFA!