sexta-feira, 30 de março de 2007

Até quando?

Pode-se até admitir que os pobres tenham virtudes, mas elas devem, na verdade, ser apenas lamentadas. Muitas vezes ouvimos que os pobres são gratos à caridade. Alguns o são, sem dúvida, mas os melhores entre eles jamais o serão. São ingratos, descontentes, desobedientes e rebeldes - e têm razão.
Consideram que a caridade é uma forma inadequada e ridícula de restituição parcial, uma esmola, geralmente acompanhada de uma tentativa impertinente, por parte do doador, de tiranizar a vida de quem a recebe. Por que deveriam sentir gratidão pelas migalhas que caem da mesa dos ricos?
Eles deveriam, na verdade, estar sentados nela, e agora começam a percebê-lo.
Quanto ao descontentamento, qualquer homem que não se sentisse descontente com o péssimo ambiente e o baixo nível de vida que lhe são reservados seria realmente muito estúpido.


Qualquer pessoa que tenha lido a história da humanidade aprendeu que a desobediência é a virtude original do homem. O progresso é uma conseqüência da desobediência e da rebelião. Muitas vezes elogiamos os pobres por serem econômicos. Mas recomendar aos pobres que poupem é algo grotesco e insultante.
Seria como aconselhar um homem que está morrendo de fome a comer menos.
E, em hipótese alguma, homem nenhum homem deveria estar disposto a mostrar que consegue viver como um animal alimentado precariamente.
Deveria recusar-se a viver assim, roubar ou fazer greve. O que, para muitos, continua sendo apenas mais uma forma de roubo.

Quanto aos pobres virtuosos, devemos ter pena deles, e jamais admirá-los. A grosso modo, pode-se dizer que entraram num acordo particular com o inimigo, e venderam os seus direitos por um preço muito baixo.
Posso entender perfeitamente um homem que aceita as leis que protegem a propriedade privada, e admita que ela seja acumulada enquanto for capaz de realizar alguma forma de atividade intelectual sob tais condições.
Mas não consigo entender como alguém que tem uma vida medonha graças a essas leis possa ainda concordar com a sua continuidade.

Contudo, a explicação não é difícil, pelo contrário.
A miséria e a pobreza são de tal modo degradantes, e exercem um efeito tão paralisante sobre a natureza humana que nenhuma classe consegue realmente ter consciência do seu próprio sofrimento. É preciso que outras pessoas venham apontá-lo e mesmo assim muitas vezes não acreditam nelas.
O que os patrões dizem sobre os agitadores é totalmente verdadeiro.
Os agitadores são um bando de pessoas intrometidas que se infiltram num determinado segmento da comunidade totalmente satisfeito com a situação em que vivem e semeiam o descontentamento nele.
E é exatamente por isso que os agitadores são necessários.


"...para um bom pensador, o fato mais trágico da revolução francesa não foi Maria Antonieta ter morrido por ser rainha.
Mas sim o fato dos camponeses famintos da Vendée concordarem em perder a vida defendendo a estúpida causa do feudalismo..."




Mais informações no decorrer do período...

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